Veja 10 fatores que explicam por que a recuperação da economia está lenta

30/05/2018

 A economia brasileira segue crescendo a passos lentos. No primeiro trimestre de 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% em relação ao trimestre anterior. No acumulado em 12 meses, a economia brasileira avançou 1,3% até março deste ano.

 
O avanço do PIB ainda é pequeno para recuperar as perdas da recessão. Em 2015 e 2016, a economia brasileira recuou 3,5% ao ano.
 
Os dados fracos da atividade econômica no início do ano levaram economistas a revisarem suas projeções para o PIB do ano, que antes estavam perto de 3% e agora estão mais próximas de 2%.
 
Na semana passada, o próprio governo reduziu de 2,97% para 2,5% a previsão de crescimento da economia brasileira em 2018. Já a média dos analistas do mercado financeiro baixaram a previsão de alta do PIB para o ano de 2,50% para 2,37%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central.
 
Segundo o economista Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, destaques da recuperação da economia no ano passado, como agronegócio e os setores de bens de consumo duráveis (veículos, utilidades domésticas e eletroeletrônicos) e de bens de capital (máquinas) continuam tendo um bom desempenho em 2018, mas ainda não houve uma difusão para outros segmentos.
 
"O que ocorreu é que a construção civil e o setor de serviços continuaram a ter um fraco desempenho. Com isto, a melhora do mercado de trabalho também se mostrou mais lenta, afetando a demanda dos bens de consumo não duráveis (alimentos, calçados, tecidos e vestuário) e de bens intermediários (metais e químicos)"
 
Veja abaixo 10 fatores que explicam a desaceleração do ritmo de recuperação:
 
1 - Desemprego muito alto
Desempregados da construção civil se reúnem diariamente no Centro de São Paulo, na esquina das ruas Barão de Itapetininga e Dom José de Barros, à procura de uma oferta de emprego (Foto: Darlan Alvarenga/G1) Desempregados da construção civil se reúnem diariamente no Centro de São Paulo, na esquina das ruas Barão de Itapetininga e Dom José de Barros, à procura de uma oferta de emprego (Foto: Darlan Alvarenga/G1)
Desempregados da construção civil se reúnem diariamente no Centro de São Paulo, na esquina das ruas Barão de Itapetininga e Dom José de Barros, à procura de uma oferta de emprego (Foto: Darlan Alvarenga/G1)
A taxa de desemprego permanece muito elevada, o que diminui o poder de compra das famílias, inibindo a retomada do consumo, um motor fundamental para o crescimento econômico.
 
No primeiro trimestre do ano, a taxa de desocupação foi de 13,1%, atingindo13,7 milhões pessoas. No trimestre encerrado em abril, o índice recuou para 12,9%, mas permanece acima do observado no final do ano passado. A subutilização da força de trabalho bateu recorde. Somados os subocupados e aqueles que desistiram de porcurar emprego, eram ao todo 27,7 milhões de pessoas nos 3 primeiros meses do ano, segundo o IBGE.
 
2 - Crédito caro
 
A taxa básica de juros alcançou o menor patamar da história, mas a redução da Selic ainda não foi repassada completamente à economia e ainda não fez o crédito deslanchar. Os juros bancários permanecem em patamar muito elevados e ainda não estimulam empresas e consumidores a investirem e consumirem mais.
 
Em abril, a taxa média do cheque especial era de 321% ao ano, e do cartão de crédito rotativo, de 331,6% ao ano.
 
3 - Freio no consumo
 
O consumo das famílias, que representa cerca de 60% do PIB, vem sendo afetado negativamente pelo desemprego. Esse freio no consumo se manifesta especialmente nos serviços e no comércio, que, nos 3 primeiros meses do ano, tiveram desempenho muito aquém do que se previa.
 
No ano passado, a liberação dos saldos das contas inativas do FGTS e os reajustes salariais acima da inflação representaram um estímulo adicional para a retomada do consumo, dois fatores atípicos que não se observa neste ano.
 
4 - Endividamento elevado
Número de famílias inadimplentes segue elevado (Foto: TV Globo) Número de famílias inadimplentes segue elevado (Foto: TV Globo)
Número de famílias inadimplentes segue elevado (Foto: TV Globo)
O nível de endividamento das famílias e das empresas segue elevado e indicadores apontam que o percentual de famílias inadimplentes voltou a crescer.
 
Segundo dados do Banco Central, a taxa de inadimplência com recursos livres no sistema financeiro caiu de 4,4% para 4,2% para empresas, entre março e abril, mas aumentou de 5% para 5,1% para pessoas físicas.
 
De acordo levantamento da Serasa, o número de empresas com dívidas em atraso seguia em nível recorde no final do 1º trimestre, atingindo 5,4 milhões de CNPJs, um aumento de 9,3% em relação a março de 2017.
 
5 - Investimentos não decolam
 
Com as contas dos governos federal e estaduais no vermelho, os investimentos públicos encolheram e ajudam a explicar o ritmo fraco de recuperação da economia. Do lado da iniciativa privada, as incertezas políticas, o ritmo fraco da construção civil e os atrasos no programa de privatizações e de leilões também dificulta uma reação maior dos investimentos em infraestrutura.
 
A confiança dos empresários recuou para o menor nível desde novembro de 2017 diante da incerteza com futuro político do Brasil e dos indícios de que a economia está caminhando de forma mais fraca do que o esperado.
 
6 - Pauta econômica emperrada
 
A pauta econômica não avançou no Congresso, e ainda há dúvidas de que outros medidas que o governo colocou como prioritárias em sua agenda, como a privatização da Eletrobras. No dia 22, o governo decidiu retirar do Orçamento de 2018 a previsão de arrecadação extra de R$ 12,2 bilhões com a privatização da estatal, devido à demora na tramitação do projeto que libera essa operação.
 
7 - Reformas pela metade
A agenda de reformas defendida pelo governo Michel Temer ficou pela metade. A atual gestão sempre assumiu um discurso de que o sucesso da agenda de reformas seria fundamental para garantir a retomada da confiança na economia e, assim, estimular o crescimento econômico.
 
O governo Temer aprovou no ano passado reformas como a PEC do Teto dos gastos e a nova lei trabalhista, mas não conseguiu avançar em outras medidas de controle fiscal. Em fevereiro, desistiu da votação da reforma da Previdência, considerada fundamental para o ajuste das contas públicas, o que levou a um novo rebaixamento da nota de crédito do Brasil.
 
8 - Ambiente externo menos favorável
 
O ambiente externo também ficou menos favorável para o Brasil, em meio a perspectiva de menor crescimento da economia mundial, anúncio de medidas protecionistas pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e temores de uma guerra comercial.
 
O mercado também começou a trabalhar com a possibilidade de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) suba os juros quatro vezes neste ano e não apenas três como era esperado inicialmente.
 
A expectativa de juros mais altos nos EUA tem provocado uma desvalorização do real. Os juros mais altos na economia norte-americana podem provocar uma fuga de recursos aplicados em países emergentes como o Brasil.
 
9 - Ano eleitoral e quadro político incerto
Em ano de eleição presidencial, o cenário político segue bastante incerto. A possibilidade de vitória de um candidato não reformista deixa os investidores bastante receosos com o futuro da economia brasileira. O próximo presidente terá uma agenda pesada pela frente, sobretudo na área fiscal.
 
Sem a certeza de qual será o próximo nome que governará o Brasil diante do elevado grau de incerteza, os investimentos tendem a ficar travados, dificultando ainda mais a recuperação do país.
 
10 - Perdas com a greve dos caminhoneiros
Em pouco mais de uma semana de greve, perdas para indústria brasileira já são bilionárias
 
Se a retomada já era frágil, os prejuízos bilionários provocados pela greve dos caminhoneiros trouxeram ainda mais dúvidas sobre a capacidade da atividade econômica voltar a ganhar tração.
 
Segundo os economistas, ainda é cedo para contabilizar os impactos provocado pelas paralisações, mas não há dúvida de que a greve terá um pesado efeito negativo sobre o PIB do 2º trimestre.
 
O banco Santander estimou que as manifestações devem trazer um impacto direto e indireto de 0,7 ponto percentual na atividade econômica e um gasto adicional de R$ 14,4 bilhões para o governo neste ano.
 
Fonte: G1

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