E eles retornaram com suas dores, feridas que jamais serão cicatrizadas, a guerra chegou, nem se quer tivemos o tempo de preparar se, o inimigo, sorrateiramente à espreita chegou sem avisar. Os motivos ninguém sabe, apenas estamos em guerra. Na maioria das guerras, os mais fortes imprimem sua vontade, sua tirania sobre os mais fracos, por um pedaço de terra talvez, apenas pela luta constante que se faz necessária pelos homens tiranos que precisam demonstrar sua força para oprimir os mais fracos. Neste caso não, ela veio sem nos avisar e sequer teve a coragem de mostrar seu rosto, e os motivos pelos quais colocaria a humanidade toda ajoelhada aos seu pês, o mundo se curvou para ele, e ele atacando de forma invisível usou as coisas mais simples como arma mortalmente perigosa, um abraço se tornou, ato mortivo, os enamorados já não mais podiam despejar seus sentimentos no abraço da despedida ou no gesto simples de saudade e amor. O beijo que tanto acalantou os tristes, alegrou os namorados, encantou os necessitados, agora não mais é permitido. A meus avos a quanto tempo os vejo de longe, a distância se tornou a impessoalidade necessária para sobrevivência humana, não há credos, cores, raças, línguas, sexos todos indistintamente foram e continuam sendo atacados. Quantos parentes se foram, amigos, vizinhos, desconhecidos que simplesmente não tiveram a chance de ser honrosamente sepultados ou descobriram o porquê.
Ninguém poderia imaginar que o ar sustentáculo mais bem precioso do ser humano, hoje é o mesmo que os mata. Hoje somos obrigados a conviver com mascaras que além de nos proteger, tenha sido necessária para nos calar, nos tornar mais humanos através do silencio e do filtro das palavras duras, que entre choros e lamentos, nos faz refletir sobre a importância da fraternidade e do amor. Ontem ou alguns dias atrás, não dávamos tanta importância para o convívio com os parentes, quantas vezes deixamos de dar uma abraço prolongado em nossos pais e irmãos, quantas vezes deixamos de procurar o amigo necessitado para poder levar o acalanto da amizade. Aquele vizinho chato hoje chora, nossos parentes também choram. Não cidades casas, vilas, ruas em que alguém ouviu falar da morte de alguém...como na guerra ativa dos incautos, os incrédulos apenas esperam desdenhosamente o momento da perda de alguém, desdenham por não sentir a dor da partida previa e provisória. Passamos a conviver com os nossas esposas (os) e filhos (as), momento esse que apesar da correria do dia a dia, não dávamos o valor devido, quantas vezes deixamos de ouvir os pensamentos de daqueles que estão ao nosso lado com tanta importância e não percebíamos o quanto se faz necessário ouvir. Mas além de tudo, temos que encontrar em uma palavra coesa segura e necessária para continuarmos vivos. Segurança, precaução, distancia, vigilância e saudade, são os meios fundamentais para que possamos manter nos vivos e aos nossos parentes e amigos.
Mas entre os escombros da mortalidade, trocamos as armas, os canhoes, as bombas, por profissionalismo, amor, afeição, comprometimento. Nossos soldados agora trocaram seu uniforme outrora camuflados pelo branco, despojados da maldade natural, carregam consigo, óculos, mascaras, capotes, luvas, gorros e o amor no coração, a esperança da dedicação em salvar vivas, não mais saímos pra lutar e deixar no campo de batalha, os despojos do inimigo, mais sim, carrega lós para seu restabelecimento. Os confrontos antes cruel em meio ao desconhecido, intitulado de inimigo, agora deu lugar ao amor ao próximo, que aqui chamaremos carinhosamente seres humanos. Sim companheiros, nossos soldados vestidos de branco, trocaram as armas pela dedicação, esperança, profissionalismo e amor ao próximo, mesmo que isso nos custe a própria vida. Gritem aos maiores rincões deste mundo, eles estão aqui, lutando, por nós, pra nós e com nós, como se não houvesse amanhã, o hoje é que importa. Temos que nos preparar porque quando tudo isso terminar, temos recepciona lós, são filhos que perderão seus pais, parentes, amigos, desconhecidos, que sempre será o amor de alguém. Preparemos nos, pois voltarão cansados, machucados por ter dado o seu melhor e não ter conseguido inverter a razão das guerras naturais a morte. Para identifica lós devemos ter boa visão e atenção no amor praticado. Seus rostos estarão marcados pelas mascaras e o suor do esforço; suas mãos estarão umidificadas pelo uso das luvas constantes; seus semblantes cansados, demonstraram a sua trajetória de 12 horas ou até mais de esforço incensam-te pela luta da vida. Ah! Sim...eles voltaram... caso pela rua você encontre algum desses soldados, não hesite em agradece lós, e no quartel general onde se apresentam todos os dias, tenham certeza, que lá estará um exército de profissionais lutando incessantemente pelo seu amor maior, e caso a fatalidade da incompreensão da vida leve ao reino do pai alguns dos seus, não esquecem, esses soldados foram os últimos a lutar por ele.
Marcelo Cancio.
Diretor do Sindicato da Saúde de Santos e da Federação Paulista da Saúde