As “sete irmãs da saúde” é a expressão que o pesquisador Eduardo Magalhães Rodrigues usa para se referir às empresas mais poderosas da saúde privada. São elas: Rede D´Or, DASA, Eurofarma, Notre Dame, Amil, Aché e Hapvida.
Para chegar a esses nomes, o pós-doutor em economia política pela PUC de São Paulo analisou as conexões acionárias dos 200 maiores grupos empresariais do Brasil e descobriu que as sete corporações exercem não só o oligopólio do mercado de saúde, como também participam de um seleto grupo de empresas que têm controle econômico hegemônico no Brasil.
Segundo o estudo de Rodrigues, a saúde privada é o terceiro setor mais poderoso da economia corporativa do Brasil, quando considerado o peso de suas conexões acionárias.
Em primeiro lugar está o setor de energia, com empresas como Neoenergia, Cemig e Copel. Já o setor de finanças, formado por bancos como Bradesco, BTG e Santander, está em segundo lugar.
Em entrevista ao Intercept Brasil, o pesquisador explicou como chegou à conclusão de que a saúde privada “é um setor mais poderoso do que a gente imaginava”. Ele usou uma metodologia que vai além dos números de faturamento e lucro.
A partir do ranking dos 200 maiores grupos empresariais do Brasil, publicado em 2020 no anuário do jornal Valor Econômico, com dados de 2019, Rodrigues utilizou três indicadores para entender o poder econômico e, principalmente, o poder político que as empresas detêm.
Um desses indicadores foi o grau de saída, que considera o número total de ações que uma empresa possui. A Rede D’Or, que controla outras 77 empresas, está em primeiro lugar, de acordo com esse indicador.
Juntas, as sete irmãs da saúde controlam outras 192 empresas. Elas fazem parte do conjunto de 1% das corporações que possuem mais de 20% das ações dos grupos empresariais mais poderosos do Brasil.
Já o grau de saída ponderado, outro indicador levado em conta, parte da quantidade de ações que uma empresa possui, mas leva em consideração o peso de cada uma dessas conexões acionárias. A Rede D’Or também está em primeiro lugar de acordo com este indicador.
Por fim, a centralidade de intermediação mede a capacidade que uma empresa tem de ligar outras entre si por meio de ações, funcionando como empresas pontes ou intermediárias. De acordo com o estudo de Rodrigues, a empresa que tem maior centralidade de intermediação é a Eletrobrás.
Para o pesquisador, esse é o indicador mais importante, porque mostra o nível de controle que uma empresa ou grupo empresarial tem na economia corporativa do país. “São corporações que têm posição estratégica para a continuidade de toda a rede, que, nesse caso, é a economia nacional”, disse Rodrigues.
De acordo com o anuário usado por Rodrigues em seu estudo, em 2019, os 200 grupos empresariais mais poderosos do Brasil controlavam 63,5% do Produto Interno Bruto brasileiro, devido suas conexões acionárias.
Naquele ano, o PIB foi de R$ 7,3 trilhões. Portanto, o valor controlado pelas empresas, entre elas as sete irmãs da saúde, foi de aproximadamente R$ 4,6 trilhões. A receita bruta das corporações foi 69,7% maior do que a do orçamento da União.
Os planos de saúde tiveram um lucro líquido de R$ 3,3 bilhões no primeiro trimestre de 2024, segundo o Painel Econômico-Financeiro da Saúde Suplementar, divulgado pela Agência Nacional de Saúde, a ANS.
Por isso, e por todo o poder de controle acionário que possuem, diz Rodrigues, “é ridículo essas empresas dizerem que têm prejuízo com os convênios médicos”. No início do ano, foi o que elas alegaram para cancelar convênios de autistas, idosos e pessoas com doenças graves.
Segundo Rodrigues, situações como essas revelam na prática qual é o problema do oligopólio da saúde privada, formado principalmente por sete empresas. “Essas empresas fazem o que querem. Elas sentam em uma mesa e determinam quais serviços vão ser oferecidos, em qual qualidade e a que preço”.
O pesquisador também falou da incapacidade da ANS de regular devidamente o setor para evitar os abusos. E do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, que deveria regular a concorrência entre empresas no Brasil, evitando justamente os oligopólios como esse que formam as setes irmãs da saúde.
Fonte: Intercept Brasil