O debate eleitoral para a Prefeitura de São Paulo, realizado pela TV Cultura no dia 15 de setembro, entrou para a história como mais um episódio deplorável da política brasileira, relembrando alguns dos momentos mais bizarros e acalorados da nossa democracia. Cenas como as de Paulo Maluf contra Mário Covas em 1998, Franco Montoro versus Jânio Quadros em 1982, e Ronaldo Caiado contra Leonel Brizola em 1989, são parte de uma tradição de embates que fogem das discussões sobre propostas concretas e se voltam para ataques pessoais, alimentando a polarização política e esvaziando o conteúdo necessário para o debate democrático.
O que vemos agora na disputa pela prefeitura de São Paulo, em 2024, é o ápice desse esvaziamento do diálogo construtivo. O nível da discussão caiu a patamares alarmantes, onde o foco está na troca de farpas e acusações, em vez de debater soluções e caminhos para melhorar a vida da população. Infelizmente, o cenário político, ao invés de valorizar as ideias e os projetos, tornou-se uma arena de confrontos verbais, com estratégias que buscam desestabilizar os adversários e, muitas vezes, desprezar o verdadeiro papel da política.
Pablo Marçal, um dos candidatos, tem seguido uma linha perigosa: sua estratégia parece não ser conquistar o voto pela qualidade de suas propostas, mas sim provocar e desestabilizar os adversários, com o intuito de ganhar visibilidade nas redes sociais. Isso é um reflexo de uma nova forma de fazer política, onde o “espetáculo” e o desejo de “ver o circo pegar fogo” substituem o debate de ideias, e os eleitores, em muitos casos, são atraídos pelo que há de mais grotesco e polêmico.
Essa tendência não surgiu do nada. Observamos uma mudança marcante desde as eleições de 2018, quando um deputado federal, Jair Bolsonaro, após 28 anos no Congresso sem aprovar um projeto relevante e envolvido em polêmicas com milicianos, ascendeu à Presidência da República. Ele o fez com um discurso violento e grosseiro, prometendo "metralhar" adversários e proferindo comentários racistas e absurdos como sugerir que quilombolas deveriam ser pesados em "arrobas", uma unidade utilizada na pecuária. Esse tipo de retórica nivelou a política por baixo, desumanizando o debate e reduzindo as discussões a ataques viscerais, sem compromisso com o bem comum.
O mais preocupante dessa situação é o impacto profundo na imagem e no futuro da política brasileira. Criminalizar a política e reduzir o nível das discussões entre candidatos desqualifica o processo democrático, afastando cidadãos do engajamento político e criando um ambiente onde as propostas e soluções para os problemas da sociedade ficam em segundo plano. Esse cenário não apenas enfraquece nossa democracia, mas também abre espaço para a perpetuação de lideranças descompromissadas com o bem-estar social, que se aproveitam da polarização e da desinformação para se manter no poder.
É por isso que precisamos, mais do que nunca, valorizar nossa democracia e os mecanismos que ela nos oferece. Em tempos de regimes autoritários, as lideranças que se mantêm no poder sem compromisso com o povo são aquelas que se perpetuam cometendo crimes e atrocidades sem serem responsabilizadas. A democracia, por mais imperfeita que seja, é o único sistema que permite a renovação de lideranças e dá voz ao povo.
O voto é uma ferramenta poderosa e sagrada. Ele é secreto e deve ser usado com consciência e responsabilidade. Não podemos nos deixar levar por aqueles que fazem da política um espetáculo grotesco, buscando apenas seus interesses pessoais. Precisamos olhar para o futuro e eleger representantes que de fato estejam comprometidos com a melhoria da sociedade, que tenham propostas concretas para enfrentar os desafios e que respeitem os princípios democráticos.
Como cidadãos, temos o dever de nos informar e de votar de maneira consciente, pensando no bem comum e no desenvolvimento de nossa cidade e país. Que este período eleitoral sirva como um alerta para refletirmos sobre o tipo de política que queremos para o Brasil, e que possamos, através de nosso voto, construir um futuro mais justo, democrático e ético.
Ricardo Patah, presidente da UGT